O
DESAFIO DOS NOVOS SACERDOTES DE MATRIZ AFRICANA
Matéria Publicada no Jornal Estrela do Oriente-Edição Maio/Junho 2013
Baba Xandeco de
Xangô-Facebook Baba Xandeco de Xangô
Ilê de Xangô-Associação Clara Nunes: 51-33521876
visitem o blog:www. xangodopovo.blogspot.com
Para esta geração de novos babalorixás e yalorixás do
tempo em que vivemos, existe um desafio muito grande e que não dá para passar
despercebido. É uma herança dos mais velhos, que até a pouco tempo atrás
tiveram o privilégio da manutenção da religião. Este desafio é nada mais nada
menos que a preservação do culto de matriz africana.
Não
importa a denominação, se no sul somos do Batuque (jeje-ijexá-oyó-kabinda ou
Cambinda-nagô) ou se nas outras regiões do Brasil vamos encontrar em Pernambuco
os Xangôs, no Maranhão o Tambor de Mina e seus Voduns, no Rio de Janeiro a
Macumba de influência Jeje- Nagô, outras
vezes identificada como Umbanda(em todo território nacional) ou Umbanda
Cruzada, ou mesmo a Quimbanda, no Estado
do Espírito Santo a Cabula ou Embanda, na Bahia e em muitas partes do Brasil o
Candomblé, também o Candomblé de Caboclo onde são aceitos entidades da Umbanda
e boiadeiros; o Catimbó com influência indígena e muitas nações africanas
denominas: Ketu,Angola,Jeje, Nagô, Congo,Muxicongo,Efon,Kabinda, Oyó, Jeje,
Ijexá e Xambá. Essas são nossas matrizes negras chegadas ao Brasil via navio
negreiro. Vem desde a senzala essa perseguição.
Hoje,
as religiões destas matrizes africanas, tem sido perseguidas com frequentes
ataques de religiões neocristãs, que investem muito no marketing jornalístico e
televisivo e que insistem em crescer atirando
pedras nas posturas africanas e suas manifestações culturais incluindo as
divindades e toda uma construção sociológica desta cosmovisão.
Na realidade, os cultos de origem africana, têm uma
hierarquia cultural de tradição com base na oralidade, onde difere na maneira
de ver o mundo e o antagonismo com as religiões cristãs, se dá, no fato em que
não trabalha no sistema piramidal, onde existe um sistema hierárquico, que
delega poderes ou os suprime, de cima para baixo.
A
herança africana, é dos conselhos e da vida comunitária, é contemplativa e não
consumista, atua com a natureza como mãe e tem na circularidade, o motivo de
renascimento, porque é cíclica. Esta verdade está, tanto nas rodas de conversa,
quizomba de pretos velhos, colares de contas, no inicio, meio e fim das
obrigações que fecham um ciclo de culto as forças da natureza, e principalmente
dentro de seus preceitos, até a visão de encarar a morte como uma passagem
única do ser humano.
Esse
modo inclusivo de viver em pequenas comunidades, que seguem cultos ao seus
antepassados e a natureza, passa a perder terreno, por não estar inserida no
contexto das religiões cristãs, nem fundamentar toda sua construção
antropológica-psico-cultural-teológica em livros didáticos-religioso tais como
Bíblia, Alcorão, Hamurábi ou “Khammu-rabi”, entre outros.
A
partir desse paradigma religioso de dogmas e regras subscritos por teólogos e
santos não negros, que não agregam os valores africanos na forma de ver o
mundo, e por não estarem no contexto de equidade de valores, logo os seguidores
da das matrizes africanas são alvejados pelo subjulgamento e o quesito
religiosidade africana passa a ser folclorizado como forma pejorativa dos
costumes oriundos do continente africano e a tentativa de exclusão dos templos
e manifestações são comuns, embora encontre resistência desta matriz.
Assim,
os mistérios divinos da África negra, e seus Orixás, incluindo a mitologia rica
que os enaltece, foge em todos os sentidos da igreja tradicional ou neocristã,
até mesmo na questão hierárquica patriarcal, isto é, homens, mulheres,
homossexuais e demais minorias discriminadas, podem exercer sua cidadania
religiosa, e serem sacerdotes na religião dos Orixás.
Esse humanismo, não deixa os templos e seus
sacerdotes distantes. Os terreiros são casas de acolhimentos humanísticos que
tem um olhar de integralidade do ser humano que procura o terreiro. Não
pregamos em praças públicas nossos valores, não fizemos pactos de fidelidade e
contribuições monetárias para manter nossas casas de orixás. Também não é
perfil das religiões de matriz africana usar o povo como massa de manobra, e
também não estamos colocando nossos colares africanos de nossos Orixás a torto
e a direito nos pescoços de quem precisa e bate a qualquer hora nas portas de
nossos terreiros, pois entendemos que cada um tem o livre arbítrio.
Mesmo
assim, diante de tanta contribuição positiva para a sociedade, a religião de
matriz africana, é cruelmente atingida nos seus preceitos, até
quando tenta sacralizar um animal. Que atire a primeira pedra quem consome um
animal vivo: aves, suínos, bovinos, caprinos, ovinos ou pescados. Tornar o
alimento sagrado, tornou-se um pecado mortal para os seguidores da religião
afro, que consomem a carne dos animais e utilizam o plasma sanguíneo nos
rituais. Os frigoríficos nunca receberam leis de impedimento de consumo. Já as
religiões afro, compram seus animais as escondidas, recebendo repúdios pela
mídia, repúdio de gestores e leis municipais onde o estado laico desaparece e o
preconceito de lideranças religiosas neocristãs, que assumiram os poderes no
cenário político brasileiro, conseguem
unir estratégias de aniquilamento as culturas africanas pelo processo de
intolerância..
Importante
frisar aos leigos da religião, que no caso dos animais, só é despachado ( depositado em matas, rios ou
cachoeiras públicas) e/ou plantado os animais e oferendas que são passadas no
corpo como descarrego, 95% dos animais é consumido e distribuído nas
comunidades carentes, aos mendigos, as crianças da comunidade. Isso ninguém
retrata, porque é um bem, num país que luta para se livrar da fome, a religião
de matriz africana e seus seguidores é a única religião, que não cobra pela
alimentação durante seus cultos e festas: tudo é doado para as pessoas! Desde o
tradicional mercado( do ritual do Batuque), que nada mais é que,um cesto básico
preparado com a comida de todos os Orixás, sendo que toda a alimentação preparadae tornada sagrada
para consumo. Muitos desconhecem tais práticas!
Considerando
que quando o ser humano, vem ao mundo ele nasce de Omi-ejé (água-sangue) e ali
no nascimento, é cortado seu vínculo corporal materno ao separar através do
cordão umbilical, perdendo assim a primeira proteção para ganhar a
individualidade da luta pela vida.
Não
temos nada de satânico, quando através de um ritual fizemos o renascimento
espiritual e aproximamos a natureza do ser humano com os Orixás. Acretidamos
que somos feito dessa natureza, terra, ar, fogo, água e éter. O ser humano vem
ao mundo banhado em sangue natural de
seus progenitores, e essas deturpações de nossos rituais é em função de
conseguir domínio de mais um leigo dentro de nosso religiosidade, com uma forma
muito peculiar, já usada na época das torturas inquisicionistas, onde se
queimava na fogueira toda e qualquer suspeita de bruxaria, sendo que uma pessoa
que preparasse um chá e tivesse domínio das forças da natureza, estava com seu
pescoço a prêmio!
Hoje,
a mídia que outrora se pronunciava com espaços democráticos nos anos 70, tendo
o Boom Africanista, foi cedendo as
cifras enormes, e torna-se, portanto, corresponsável, no processo discriminatório,
quando se omite, nada fazendo para coibir os ataques dos senhores da verdade
“Universal” de um Reino de um ‘deus’ que exclui, segrega e se compraz com bensmateriais.
O Brasil é um país laico, isto quer dizer: SEM RELIGIÃO! Então por quê o privilégio
de alguns em detrimento as demais minorias?!
Os
recursos áudios-visuais modernos digitais, usados pelos meios de comunicação, transformam-se
então em armas poderosíssimas de exclusão e racismo, pois é, contra uma
religião negra que estes incautos senhores dos saberes “divinos” usam seus
discursos inflamados de perversidade e tirania. A alto e bom som conseguem
teatrealizar preconceituosamente, valores civilizatórios da cosmovisão
africana, demonizando aquilo que é sacro dentro de nossos terreiros. Até ai,
muitos dirão, isto todos já sabem.
Mas,
minha retórica, refere-se as algemas que nos prendem, quanto as providências,
com vistas a uma solução para tornarmos visível nossa inconformidade com tais
blasfêmias, que arrastam milhões de fiéis para dentro de igrejas que se erguem
da noite para o dia e arrecadam tudo que podem e depois se mandam do nosso país
ou promovem suicídios coletivos, ou ainda descobrem tarde demais se tratarem de
mentes doentes, até mesmo pedófilos. Esta mesma imprensa não alardeia tais
fatos. Dentro das tais igrejas o culto ao “Deus dinheiro’ se impõe com
sagacidade e se fala mais em demônio do que no próprio salvador.
A
astúcia dos grandes” vendedores de Deus” é a chave do sucesso relâmpago dos
novos pastores, que tem carro importado, teve de plasma e o diabo a quatro, até
mesmo porque o demônio, que a igreja Universal dentre outras, dá grande valor, garante o salário do pastor e
suas incursões pelo terreno da culpa são contempladas pela troca do sagrado
dinheiro.
Como
forma de prender emocionalmente a parcela vulnerável de nossa população,
maioria gente simples, sem-muita instrução, as pessoas vão sendo seduzidas pela
técnica meticulosa e persuasiva de incutir medo naquele que está passando pelos
altos e baixos que a vida nos proporciona, atribuindo sempre a um trabalho
feito no candomblé ou umbanda. Pronto! Feita esta chamada eloquente vem ao ar o
“Show da fé’: Berram, ficam afônicos de tanto gritar, quiçá Deus seja surdo, e
choram, pagam alguém para se atirar no chão, pagam falsos depoimentos, pegam
ex- sacerdotes das religiões afros que usavam para o mal seus axés, e ali fazem
o banquete das infâmias. E se não fosse um quadro de pinturas grotescas, com
certeza suas cores tétricas conduziriam a cena triste, para um final cômico.
A
ânsia de manifestação de “demônios” é tanta que o tal desejo é incitado,
ficando em segundo plano aquele que pregou a humildade e nasceu proletário numa
manjedoura. Essa teatrealização, vai desde o majestoso palco-altar, com
teatro-igreja, até termos o ápice do pão e circo romano com a hora da
libertação com gente ‘encostada’,( termo usado há pouco tempo também para se
referir a pessoas doentes que estavam na fila de espera de benefícios do
extinto INPS hoje Ministério da Previdência Social). Mera coincidência do termo
usado, para tratar das mazelas humanas, que vira um produto de primeira
categoria na mão dos neopentecostais, pois rende muito aos vendedores do
paraíso do mundo dos milagres. (continua na próxima edição)
Em
tempo: agradeço a todos os amigos, que fizeram essa grande corrente no Rio
Grande do Sul e mesmo amigos de outros estados do Brasil, pelo restabelecimento
de minha saúde. Meu Modupé a todos e todas. Que Xangô lhes deem em múltiplos de
6, tudo que me desejaram! Kaô! Kabyelesilê!
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