sexta-feira, 7 de junho de 2013

O DESAFIO DOS NOVOS SACERDOTES DE MATRIZ AFRICANA

O DESAFIO DOS NOVOS SACERDOTES DE MATRIZ AFRICANA 

Matéria Publicada no Jornal Estrela do Oriente-Edição Maio/Junho 2013
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Para esta geração de novos babalorixás e yalorixás do tempo em que vivemos, existe um desafio muito grande e que não dá para passar despercebido. É uma herança dos mais velhos, que até a pouco tempo atrás tiveram o privilégio da manutenção da religião. Este desafio é nada mais nada menos que a preservação do culto de matriz africana.

            Não importa a denominação, se no sul somos do Batuque (jeje-ijexá-oyó-kabinda ou Cambinda-nagô) ou se nas outras regiões do Brasil vamos encontrar em Pernambuco os Xangôs, no Maranhão o Tambor de Mina e seus Voduns, no Rio de Janeiro a Macumba de influência Jeje- Nagô, outras  vezes identificada como Umbanda(em todo território nacional) ou Umbanda Cruzada, ou mesmo a Quimbanda,  no Estado do Espírito Santo a Cabula ou Embanda, na Bahia e em muitas partes do Brasil o Candomblé, também o Candomblé de Caboclo onde são aceitos entidades da Umbanda e boiadeiros; o Catimbó com influência indígena e muitas nações africanas denominas: Ketu,Angola,Jeje, Nagô, Congo,Muxicongo,Efon,Kabinda, Oyó, Jeje, Ijexá e Xambá. Essas são nossas matrizes negras chegadas ao Brasil via navio negreiro. Vem desde a senzala essa perseguição.

           Hoje, as religiões destas matrizes africanas, tem sido perseguidas com frequentes ataques de religiões neocristãs, que investem muito no marketing jornalístico e televisivo e que insistem em crescer atirando pedras nas posturas africanas e suas manifestações culturais incluindo as divindades e toda uma construção sociológica desta cosmovisão.
Na realidade, os cultos de origem africana, têm uma hierarquia cultural de tradição com base na oralidade, onde difere na maneira de ver o mundo e o antagonismo com as religiões cristãs, se dá, no fato em que não trabalha no sistema piramidal, onde existe um sistema hierárquico, que delega poderes ou os suprime, de cima para baixo.

            A herança africana, é dos conselhos e da vida comunitária, é contemplativa e não consumista, atua com a natureza como mãe e tem na circularidade, o motivo de renascimento, porque é cíclica. Esta verdade está, tanto nas rodas de conversa, quizomba de pretos velhos, colares de contas, no inicio, meio e fim das obrigações que fecham um ciclo de culto as forças da natureza, e principalmente dentro de seus preceitos, até a visão de encarar a morte como uma passagem única do ser humano.

            Esse modo inclusivo de viver em pequenas comunidades, que seguem cultos ao seus antepassados e a natureza, passa a perder terreno, por não estar inserida no contexto das religiões cristãs, nem fundamentar toda sua construção antropológica-psico-cultural-teológica em livros didáticos-religioso tais como Bíblia, Alcorão, Hamurábi ou “Khammu-rabi”, entre outros.

            A partir desse paradigma religioso de dogmas e regras subscritos por teólogos e santos não negros, que não agregam os valores africanos na forma de ver o mundo, e por não estarem no contexto de equidade de valores, logo os seguidores da das matrizes africanas são alvejados pelo subjulgamento e o quesito religiosidade africana passa a ser folclorizado como forma pejorativa dos costumes oriundos do continente africano e a tentativa de exclusão dos templos e manifestações são comuns, embora encontre resistência desta matriz.

            Assim, os mistérios divinos da África negra, e seus Orixás, incluindo a mitologia rica que os enaltece, foge em todos os sentidos da igreja tradicional ou neocristã, até mesmo na questão hierárquica patriarcal, isto é, homens, mulheres, homossexuais e demais minorias discriminadas, podem exercer sua cidadania religiosa, e serem sacerdotes na religião dos Orixás.

           Esse humanismo, não deixa os templos e seus sacerdotes distantes. Os terreiros são casas de acolhimentos humanísticos que tem um olhar de integralidade do ser humano que procura o terreiro. Não pregamos em praças públicas nossos valores, não fizemos pactos de fidelidade e contribuições monetárias para manter nossas casas de orixás. Também não é perfil das religiões de matriz africana usar o povo como massa de manobra, e também não estamos colocando nossos colares africanos de nossos Orixás a torto e a direito nos pescoços de quem precisa e bate a qualquer hora nas portas de nossos terreiros, pois entendemos que cada um tem o livre arbítrio.

            Mesmo assim, diante de tanta contribuição positiva para a sociedade, a religião de matriz africana,   é cruelmente atingida nos seus preceitos, até quando tenta sacralizar um animal. Que atire a primeira pedra quem consome um animal vivo: aves, suínos, bovinos, caprinos, ovinos ou pescados. Tornar o alimento sagrado, tornou-se um pecado mortal para os seguidores da religião afro, que consomem a carne dos animais e utilizam o plasma sanguíneo nos rituais. Os frigoríficos nunca receberam leis de impedimento de consumo. Já as religiões afro, compram seus animais as escondidas, recebendo repúdios pela mídia, repúdio de gestores e leis municipais onde o estado laico desaparece e o preconceito de lideranças religiosas neocristãs, que assumiram os poderes no cenário político brasileiro, conseguem  unir estratégias de aniquilamento as culturas africanas pelo processo de intolerância..

            Importante frisar aos leigos da religião, que no caso dos animais,  só é despachado ( depositado em matas, rios ou cachoeiras públicas) e/ou plantado os animais e oferendas que são passadas no corpo como descarrego, 95% dos animais é consumido e distribuído nas comunidades carentes, aos mendigos, as crianças da comunidade. Isso ninguém retrata, porque é um bem, num país que luta para se livrar da fome, a religião de matriz africana e seus seguidores é a única religião, que não cobra pela alimentação durante seus cultos e festas: tudo é doado para as pessoas! Desde o tradicional mercado( do ritual do Batuque), que nada mais é que,um cesto básico preparado com a comida de todos os Orixás, sendo que  toda a alimentação preparadae tornada sagrada para consumo. Muitos desconhecem tais práticas!
           Considerando que quando o ser humano, vem ao mundo ele nasce de Omi-ejé (água-sangue) e ali no nascimento, é cortado seu vínculo corporal materno ao separar através do cordão umbilical, perdendo assim a primeira proteção para ganhar a individualidade da luta pela vida.

            Não temos nada de satânico, quando através de um ritual fizemos o renascimento espiritual e aproximamos a natureza do ser humano com os Orixás. Acretidamos que somos feito dessa natureza, terra, ar, fogo, água e éter. O ser humano vem ao mundo banhado em sangue natural  de seus progenitores, e essas deturpações de nossos rituais é em função de conseguir domínio de mais um leigo dentro de nosso religiosidade, com uma forma muito peculiar, já usada na época das torturas inquisicionistas, onde se queimava na fogueira toda e qualquer suspeita de bruxaria, sendo que uma pessoa que preparasse um chá e tivesse domínio das forças da natureza, estava com seu pescoço a prêmio!
            Hoje, a mídia que outrora se pronunciava com espaços democráticos nos anos 70, tendo o Boom Africanista, foi cedendo as cifras enormes, e torna-se, portanto, corresponsável, no processo discriminatório, quando se omite, nada fazendo para coibir os ataques dos senhores da verdade “Universal” de um Reino de um ‘deus’ que exclui, segrega e se compraz com bensmateriais. O Brasil é um país laico, isto quer dizer: SEM RELIGIÃO! Então por quê o privilégio de alguns em detrimento as demais minorias?!
            Os recursos áudios-visuais modernos digitais, usados pelos meios de comunicação, transformam-se então em armas poderosíssimas de exclusão e racismo, pois é, contra uma religião negra que estes incautos senhores dos saberes “divinos” usam seus discursos inflamados de perversidade e tirania. A alto e bom som conseguem teatrealizar preconceituosamente, valores civilizatórios da cosmovisão africana, demonizando aquilo que é sacro dentro de nossos terreiros. Até ai, muitos dirão, isto todos já sabem.

            Mas, minha retórica, refere-se as algemas que nos prendem, quanto as providências, com vistas a uma solução para tornarmos visível nossa inconformidade com tais blasfêmias, que arrastam milhões de fiéis para dentro de igrejas que se erguem da noite para o dia e arrecadam tudo que podem e depois se mandam do nosso país ou promovem suicídios coletivos, ou ainda descobrem tarde demais se tratarem de mentes doentes, até mesmo pedófilos. Esta mesma imprensa não alardeia tais fatos. Dentro das tais igrejas o culto ao “Deus dinheiro’ se impõe com sagacidade e se fala mais em demônio do que no próprio salvador.

            A astúcia dos grandes” vendedores de Deus” é a chave do sucesso relâmpago dos novos pastores, que tem carro importado, teve de plasma e o diabo a quatro, até mesmo porque o demônio, que a igreja Universal dentre outras,  dá grande valor, garante o salário do pastor e suas incursões pelo terreno da culpa são contempladas pela troca do sagrado dinheiro.

            Como forma de prender emocionalmente a parcela vulnerável de nossa população, maioria gente simples, sem-muita instrução, as pessoas vão sendo seduzidas pela técnica meticulosa e persuasiva de incutir medo naquele que está passando pelos altos e baixos que a vida nos proporciona, atribuindo sempre a um trabalho feito no candomblé ou umbanda. Pronto! Feita esta chamada eloquente vem ao ar o “Show da fé’: Berram, ficam afônicos de tanto gritar, quiçá Deus seja surdo, e choram, pagam alguém para se atirar no chão, pagam falsos depoimentos, pegam ex- sacerdotes das religiões afros que usavam para o mal seus axés, e ali fazem o banquete das infâmias. E se não fosse um quadro de pinturas grotescas, com certeza suas cores tétricas conduziriam a cena triste, para um final cômico.

             A ânsia de manifestação de “demônios” é tanta que o tal desejo é incitado, ficando em segundo plano aquele que pregou a humildade e nasceu proletário numa manjedoura. Essa teatrealização, vai desde o majestoso palco-altar, com teatro-igreja, até termos o ápice do pão e circo romano com a hora da libertação com gente ‘encostada’,( termo usado há pouco tempo também para se referir a pessoas doentes que estavam na fila de espera de benefícios do extinto INPS hoje Ministério da Previdência Social). Mera coincidência do termo usado, para tratar das mazelas humanas, que vira um produto de primeira categoria na mão dos neopentecostais, pois rende muito aos vendedores do paraíso do mundo dos milagres. (continua na próxima edição)

            Em tempo: agradeço a todos os amigos, que fizeram essa grande corrente no Rio Grande do Sul e mesmo amigos de outros estados do Brasil, pelo restabelecimento de minha saúde. Meu Modupé a todos e todas. Que Xangô lhes deem em múltiplos de 6, tudo que me desejaram! Kaô! Kabyelesilê!


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