sábado, 18 de maio de 2013


TERÇA-FEIRA, 2 DE ABRIL DE 2013

CLARA NUNES ESTÁ VIVA!

Há 30 anos atrás, num dia 2 de abril de 1983, nós brasileiros, perdíamos a maior expressão da nossa música popular brasileira: Clara Nunes.
Estava na casa de minha tia, quando uma de minhas primas a Maninha, chegou e me disse: morreu Clara Nunes! Aquela dor, era uma dor idêntica a dor sentida por um ente-querido, um consangüíneo nosso, que parte assim, sem dizer adeus!
A matriz africana, vivenciada e explicitada de forma nobre por Clara Nunes , foi sem sombra o maior afago à cosmovisão africana no Brasil, que já tivemos no cenário musical . Clara Nunes mostrou ao mundo o quanto é bonito ser negro. O quanto o sangue negro misturou-se ao mosaico cultural e deixou o Brasil um povo que sobrevive as adversidades cantando, mesmo que seja de dor! Mestiça, Clara ficou a vontade com seus cabelos crespos, suas roupas de religião, seus colares de contas e seus pés nus e muito bronzeamento para sua cor morena se tornar negra.
Esse resgate de identidade negra, somou-se a uma voz perfeita na entonação de cultura afro-brasileira, com expressões e mapeamentos musicais de resgate desta identidade, e foram despencando no cenário musical brasileiro jongos, maracatus, frevos, congadas, sambas de enredo, samba canção, toadas, toques de candomblé, folclore e muita fé no que fazia. Isso fez a auto-estima do povo negro, discriminado na sua cultura, subir e eleger Clara Nunes a nossa maior cantora, isso no Brasil negro, que a consagrou nas vendagens de discos. Clara se tornou um fenômeno, o mesmo povo que ela acarinhava com suas canções, era quem fazia dela uma rainha. O outro Brasil não negro,racista, discriminador, abastado, das elites, é óbvio escolhera outra cantora para representá-lo, mas teve que render-se ao talento da cantora caipira, vinda do interior e que em plena ditadura militar entoava cantos de louvor e hinos de luta como Canto das três raças.
O congraçamento das etnias brasileiras, e o sonho de equidade social, se manifestavam na cantora, quando sem esquecer suas origens, ia em busca dos compositores populares e se a música não arrepiasse, e não tocasse primeiro seu coração, ela não gravava. Seguia os referenciais do povo entre morros, terreiros,Continente Africano e o mundo afora, na busca do popular sem ser popularesca. 

Furava o bloqueio masculino e tornou-se um fenômeno de vendas. Vendia milhões de discos. No país do carnaval, nunca Clara teve em vida um especial na maior TV brasileira. Levou essa mágoa para a eternidade. Essa invisibilidade da representante autêntica do povo brasileiro, só foi sacudida pela morte prematura da artista. E dai? Daí que depois que Clara morreu, mais uma vez o mundo do poder, não negro, voltou-se para lágrima e dor do povo brasileiro, mais como manchete da confusão do enterro que reuniu mais de 50.000 pessoas no Rio de Janeiro, do que verdadeiro respeito pela artista,pela mulher de fibra, determinada,que nunca traiu seus princípios do cantar como missão, em forma de oração, lenitivo necessário para revelar a face de um povo, sua leveza, de rara beleza, e fé na sua grandeza.Não era atoa, o apelido de Sabia, quantas vezes observamos esse pássaro a cantar, com sol ou chuva lá está ele. Clara realmente, pássaro cantante.

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