quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CLARA NUNES O CANTO DE FÉ DA MATRIZ AFRICANA NO BRASIL

UMA QUESTÃO DE FÉ



Uma mensagem não autorizada de meu computador, diz... lembre-me mais tarde!!!
Acho impressionante, como vamos adiando aquilo ao qual, temos que mais cedo ou mais tarde prestar contas, enfim, resolver.
A memória humana, e nossa capacidade de uso cerebral limitada, nos faz adiar aquilo que estamos empenhados em realizar, mas vamos protelando, como se quiséssemos que alguém faça o que é o nosso tema de casa.
O que isso tem a ver com o terreiro e a memória da linda Clara Nunes?
Simplesmente a nossa tão esquecida memória.
No caso da religiosidade o que nos conduz as ações, é justamente a memória genética, a ancestralidade, a transgeracionalidade, conduzindo ações de sobrevivência e principalmente de resistência a tantas injustiças sociais.
Recordar Clara Nunes para mim é recordar que existe afinal, o fator fé.
O que a cantora mais fez em vida, foi passar um atestado musical de fé, através do resgate das tradições afro-brasileiras e a promover de forma nobre.
A fé remove montanhas, e lá estava eu diante da TV quando o canto da sereia e as indumentárias dos terreiros, guias colares e patuás num canto cheio de encanto e promessa de um dia melhor louvando.
Tempo bom!!!
Poucos recursos tecnológicos, long plays com barulho de chuva participando da música, e a música em feitio de oração
Hoje e eu sou uma pessoa da fé. Porque tive em minhas raízes a família ligada ao africanismo e recebi a energia da auto-estima através das mensagens musicais da iluminada Clara Nunes.
Numa das entrevistas a cantora tentava explicar-se acerca de todos seus procederes e sintetizou dizendo-se descobertA “ É isso, eu tenho fé!’’ dizia, para acalmar os ânimos desafiando sua missão de projetar uma manifestação de fé que é muito discriminada, por ser originária da Mãe África.
Como é difícil acreditar hoje em dia!!!
As pessoas mentem! Para conseguir subir na vida, pensam que é preciso subir em cima da cabeça dos outros. Não respeitam nada, em nome do poder, e quem pode mais, chora menos.
Como crer em alguém, ou em algo, se não temos em quem nos espelhar?
Não temos alguém, que a gente diga, poxa, gostaria de não imitar, mas conseguir um dia ser tão digno e lutar por essa dignidade até extinguir-se o último ar de sobrevivência terrena.
Uma pessoa que você conheceu um dia, um dia qualquer vai virar somente lembrança. Os amores perdidos no tempo vão ser lampejos de alegria pelo simples fato do carinho e reciprocidade. Vivemos lutando e nos aprimorando, nos adaptando, nos transformando, enfim somos mutantes, Darwin já afirmava isso, e era considerado um louco, e após muito tempo, um sábio.
Saber que um dia a gente poderá se encontrar são razões que se aglutinam nos nossos pensares e divagamos na condição de impotência diante das mudanças mundanas.
Perder alguém para o mundo espiritual é outro laço difícil de ser compreendido, embora todos nasçam sabendo que existe o Orixá tempo, e que no tempo indeterminado de validade que temos na terra seremos um dia chamados para reciclagem espiritual. Uns mais cedo, tal qual aconteceu com o acidente anafilático, que levaram Clara Nunes para o mundo imaterial, outros vão mais tarde, e assim aos poucos, vamos todos um dia deixar este plano terrestre em busca de aperfeiçoamento do nosso espírito.
Leio no momento um livro sobre animais. Animais têm alma? Tem anima sim!!! Muito me questionei. Sempre fui muito ligado aos cães e tenho verdadeira empatia por estes seres. Mas não são somente eles. Os pássaros ao qual tenho verdadeira paixão. Gosto de tê-los voando ao meu olhar, nunca presos, assim eles podem me brindar com seus gorjeios, da felicidade de ser livre o voarem pelos céus. Acordam-me, me saudando: Bem te vi!!!
Os puros de coração verão Olorum!!!
Visibilizo nossos Orixás sagrados em toda exuberância que a vida proporciona.
Acompanho os batimentos cardíacos das várias formas de apresentação divina e compreendo a grandeza nos gestos detalhados e requintados do acabamento da obra divina. Quanta magnitude Olorun!!! Nenhum engenheiro ou arquiteto capaz de edificar tamanha obra e seus detalhes de generosidade nas formas apresentadas.
Quanta diversidade!!!
Como nem tudo é perfeito, acredito que Olorum, junto aos demais Orixás tem a incumbência das mais difíceis de se cumprir. Trabalhar o Ori Inu, a nossa cabeça de dentro.
A reforma do cerne humano!!!
Quando temos tudo de divino, vem as imperfeições humanas, tornado tudo tão cético. Transformamos o divino em profano e tornamos tudo tão sem vida, como corpos depois do último suspiro.
Racismo, homofobia, sexismo, lesbofobia, miséria, pedofilia, fome, inconsciência ambiental, exploração dentre outras formas de violência, produzem a morte dos filhos da criação divina e da natureza do qual pode se utilizar o homem na sua essência humana.
Não agradecemos, somos grosseiros com nosso Criador.
Desrespeitamos as leis naturais.
E aqueles que chamamos de selvagens, de nossos primitivos hominídeos africanos, raiz da raça humana, ao estudarmos veremos, que eles estavam mais próximos da luz divina, do que os que se julgam doutores em sabedoria e destroem o compromisso de fé na vida, através dos monstros guardados em seu cerne.
O elo da fé me reporta ao meu embrião, que é a fé nos Orixás. Respeito à diversidade religiosa e todas as outras formas de pensamento fraterno de construção de um mundo que aprenda a amar o seu diferente, como se fosse o seu semelhante. Somos parte de um quebra-cabeça, uma peca completa a outra.
Com o aprendizado na religião de Matriz Africana, aprende-se muito cedo a deitar Ori e fazer Ebó agradecendo ao Criador e aos Orixás guardiões de nossa essência terrena, como parte indissociável da vida. Enfim o sagrado.
Surpreendi-me muito cedo, com o lado imaterial, chamado por muitos de espiritual, e desse mundo, não mais me separei por estar sempre buscando além dos traços grosseiros e inacabados da matéria e do invólucro carnal, o aperfeiçoamento do meu ser.
Sou um sacerdote responsável pelo meu povo de Orixá. Busco dia a dia, a solução para tantos anseios, ansiedades, traumas humanos causados pelo sofrimento, instrumento capaz de dizer nitidamente aos seres, que eles podem recomeçar... todo sofrimento, é uma mudança que estamos passando e que devemos avalizar com calma, rumo a uma solução que possa nos elevar para um nível de entendimento e mudança interior.
Aí entra uma questão de fé, agindo como lenitivo de justiça divina, que atua como medicação plasmada no momento que nos conectamos com as forcas desencadeadoras da nossa essência.
Estrelas também são lágrimas do universo, caídas e depositadas em oceanos de reparação de nossos erros. Quanta satisfação poder encontrar o espelho e se achar bonito, não pela carne, mas pela satisfação do dever cumprido.
Que alegria, poder chorar. O pranto derretido, da água bebida em espírito unificado pela escola da vida.
Que beleza buscar os paradigmas que nos inspiram a fé!
Orixás, Cristo, Buda, Madre Tereza, Martin Luther King, Zumbi dos Palmares, Cruz e Souza, Chico Xavier ou nossa inesquecível Clara Nunes.
Foram eles perfeitos, imáculos, sem erro algum?
Não. Foram seres como todos nós que amaram, sofreram decepções, evacuaram, urinaram, tiveram enlaces sexuais, viveram a vida. A diferença é que não colocaram no plano máximo de suas vidas, suas necessidades humanas, mas que fizeram dos anseios e carências, de um número muito grande de pessoas, a ponte necessária para a elevação a uma conduta que pudesse servir de paradigma positivo e bússola correta, no encontro da Luz e a propagaram como mensagem que deveria permanecer profundamente na memória, como a forma mais linda de amor ao outro, mesmo sabendo que um dia suas vidas na terra, seriam meras lembranças.
Pense nisso.
Baba Xandeco de Xangô (Alexandre Gabriel)

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